Promiscuidades...
Ao ler esta notícia, a primeira coisa que me ocorreu foi "Mas porque é que estes tipos têm de meter o bedelho?!" Caramba, desde os tempos de John Locke que se fala com clareza da separação entre Igreja e Estado! Parece que 3 séculos (a Carta sobre a Tolerância foi publicada em 1689) não foram suficientes para que os Estados e a própria Igreja percebessem o alcance da coisa... Trata-se de uma questão que envolve direitos fundamentais, poder legislativo e o povo enquanto colectividade Estado.
Quanto a esta última parte já escrevi em vários locais que penso que questões relacionadas com direitos fundamentais não se referendam, legislam-se na Assembleia da República, mas para isso é precisa coragem. Este Governo já foi tantas vezes acusado de ser arrogante e autista, que desta vez até podia fazer jus à fama e seguir com isto para frente de uma vez por todas! Pelo andar (vagaroso) da carruagem admito o referendo como "mal menor" para que finalmente se acabe com tanta hipocrisia.
O problema do referendo é a manipulação de vontades. Gostava de acreditar que vivemos num país com pessoas esclarecidas, capazes de pensar pela sua própria cabecinha. Mas infelizmente essa não é a realidade. Sobretudo em meios mais pequenos, onde a a Igreja ainda detêm enorme influência e onde a voz do Padre é a voz de Deus e ponto final. "Se votarem pela despenalização do aborto vão todos ardem em combustão lenta no Inferno!" E pronto, está o caldo entornado.
Mas depois também me lembrei que o Governo tem agido de forma, no mínimo, estranha, fazendo campanha, pondo Ministros a apelar não se percebe bem o quê aos médicos... Enfim...
Anda tudo muito baralhado com as respectivas funções. Se calhar, é mesmo melhor recuarmos e juntar a Igreja ao Governo, porque parece que o Dia do Juízo Final anda próximo...
2 comentários:
Joana, já escrevi isto nuns quantos lados. Não achas estranho estar-se a fazer um segundo referendo sobre o mesmo tema? Duvidas que irão continuar a ser feitos referendos até que ganhe o "Sim"? Que treta de democracia é esta?
Rafeiro: com o risco de me repetir, concordo. Isto é uma forma muito mal "enjorcada" de tentar remediar o fiasco que foi o referendo em 1998, porque para além do sentido cívico de muitos portugueses se evaporar rapidamente face a um bom dia de praia, a pergunta, da forma como estava colocada, era bastante rebuscada, enganosa, e duvido que muitas pessoas a tenham entendido em toda a sua plenitude. Depois, foi o que se viu.
E agora sim, tendo a certeza de que me estou a repetir, alterem directamente a lei de uma vez por todas, porque têm poder e legitimidade para isso, em vez de andar com estas palhaçadas e com situações dúbias, como o Governo andar a fazer campanha (independentemente de ser pelo Sim ou pelo Não).
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